Em suas andanças errantes,
o pierrot clama por um amor
muitas vezes tão distante
só trazendo forte a dor
Em sua viola cantante
chora as mágoas da ilusão
e, não obstante,
as conquistas do coração
Nos trajes traz os caminhos
percorridos pelo corpo servil,
em cada botão, em cada fio de linho,
a lembrança de uma mulher vil
Nas praças em que dorme
atrai olhares complacentes,
que não sabem o que o consome
nem seus sonhos tão dolentes
No olhar tão comovente
transborda a recusa de um afeto,
sofrendo silente
por alguém longe e perto
Traz nas mãos calejadas
a via tortuosa das paixões
das rosas colhidas e roubadas
entregues a duros corações
Apesar de toda a desventura
e quimeras carnavalescas,
o pierrot tem uma lura
de esperanças nababescas
De que um dia venha a ter
recíproco um carinho
antes da lura vir a ser
a vítrea cova em que sozinho