Céu e Inferno
podem coexistir no mesmo espaço.
Tal como Sol e
Lua, que mesmo estando equidistantes
Vislumbram-se
diariamente por alguns instantes.
Cada alma tem
seu espelho enigmático do inverso
Refletindo o
oposto de si em si própria,
A representar
o (des)equilíbrio do universo.
A lágrima que
transborda de cada lago sem esperança
Em sua
ambiguidade carrega o peso e a leveza
Ao destilar na
mesma maré alegria e tristeza,
Irrigando o
rosto triste que espera a bonança.
A doce mulher
que hoje sorri com brandura
Amanhã agirá
com refinado egoísmo
Não escondendo
sua natureza leviana,
Envernizada
com o rutilante lirismo
Que recobre
seu corpo ornado de loucura.
Para cada sorriso
largo há duas perturbações
A priori e a
posteriori do efêmero contentamento :
A angústia,
tanto em alcançar este desejo onírico
Quanto por tê-lo
perene apenas no pensamento;
O Inferno
está, pois, nos extremos das libações.
A alma astuta
convive em plena harmonia
Com os
conflitos de sua dicotomia interior
E sabe
exteriorizar sem dissabor,
Com parcimônia,
toda a dor da alegria.
Sabe
entregar-se à morte a alma resignada;
Disciplinada,
segue sem olhar para trás
O caminho que
sobriamente traçou em sua jornada.
O Céu é, pois,
a promessa de um regozijo futuro
Para os pecados
já redimidos de outrora.
O Inferno é o
agora.