“A liberdade é incompatível com o amor.
O amante é sempre um escravo.”
Baronne de Staal
Quando aquele espinho perfurara
cruelmente sua mão direita, já havia perdido as contas de quantos buquês de
rosas preparara até então naquele dia dos namorados enfadonho. Possuía uma
modesta floricultura numa rua outrora movimentada.
Ao aparecer algum cliente, ele
sorria de modo vago, perguntando se poderia ajudar. Os rapazes não entendiam
nada de flores, nem sequer sabiam o significado das cores de cada rosa – o
vermelho das paixões insanas, o amarelo das amizades platônicas, o branco da
falsa inocência e da paz que não se encontra no amor – e compravam sempre as vermelhas por serem as mais comuns. Certamente suas namoradas
adoravam as mesmas flores anuais, e assim o sexo habitual estaria garantido.
Todo ano, no dia dos namorados, ele
prepara um buquê misto de rosas amarelas e vermelhas, e guarda no estoque, numa
prateleira feita especialmente para esse fim. Colocava-os lado a lado, ano após
ano, e lá apodreciam. Neste ano não seria diferente; porém, a cada ano, uma
flor a menos era unida ao solitário buquê.
Hoje, colocaria apenas uma flor. Não
seria amarela, nem tampouco vermelha. Tingiu de preto a rosa mais alva que
possuía e esperou que curtisse ao sol que entrava pela janela embaçada. Com ela
seca e quente, deixou-a na referida prateleira, tendo deixado cair numa pétala
uma gota de sangue da sua mão ferida pelo espinho.
Desligou todas as luzes, fechou
todos os armários e trancou a loja para sempre, com a mesma chave que usara
para cerrar seu coração de amador.
Nossa! Gostei muito desse texto. Daria um belo "cult movie". Um abraço!
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