As
últimas marcas da tua presença
reduziram-se
a um porta retrato
inodoro
e insípido e incômodo,
o
qual me sorri todas as vezes
que
abro a gaveta da escrivaninha.
É
sobre ele que jogo a cinza dos meus cigarros;
sua
forma arredondada e moldura côncava
auxiliam-me
nesse pequeno recalque,
porém
logo sinto remorso
e
limpo cuidadosamente como que para evitar
que
tu visses tamanho rancor cinzento
a
enfumaçar minha espera.
“Fumando
espero” é o oportuno nome
do
tango que eu ponho por teimosia na vitrola.
Tu
costumavas dançar ao som desse tango,
nua,
cantando no teu espanhol fluente
e
fumávamos até embriagar as paredes
com
a fumaça de nossos corpos em chamas.
Agora
o único a queimar é o meu cigarro,
à
espera de alguém que não mais conheço.
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