É a noite o devaneio
das almas suplicantes,
que mantêm um anseio
em seus corações errantes
É a noite o vício
na penumbra embalado,
que abafa o suplício
do coração apaixonado
É a noite a tragada
da fumaça vital,
que a paixão destroçada
fez chegar ao final
É a noite a rosa
embebida em licor,
que de tão cheirosa
me negou seu amor
É a noite o gim
do copo vazio,
que bem no fim
te deixa com frio
É a noite o calor
do conhaque fervendo,
que cai com frescor
na garganta ardendo
É a noite o amargor
do uísque barato,
que ulcera o amor
roído pelo rato
É a noite o inverno
do gelo do amor,
que é o inferno
e a chama da dor
É a noite o dia
que raia lá fora,
uma manhã fria:
vou-me embora.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Prece
Longevas sensações me invadem
trazendo-me à mente teu rosto,
torpes emoções me persuadem
a ainda te ter por meu gosto
Por mais que reze e implore
ajoelhando-me a todos os santos
do amparo teu não consigo esquecer,
o que me deixa sozinho, aos prantos
Mas o que posso fazer
se teu perfume em minha casa está
melhor mesmo é morrer,
para que os vermes possam meu cadáver corroer
e levar minha carne podre
para as larvas dos bichos poderem almoçar
Então, espero-te no paraíso
para que tu possas novamente me preterir
em favor de São Lucas
-a quem darás teu riso-
ou ao Arcanjo Rafael
-a quem vais com teu amor cobrir.
Amém...
trazendo-me à mente teu rosto,
torpes emoções me persuadem
a ainda te ter por meu gosto
Por mais que reze e implore
ajoelhando-me a todos os santos
do amparo teu não consigo esquecer,
o que me deixa sozinho, aos prantos
Mas o que posso fazer
se teu perfume em minha casa está
melhor mesmo é morrer,
para que os vermes possam meu cadáver corroer
e levar minha carne podre
para as larvas dos bichos poderem almoçar
Então, espero-te no paraíso
para que tu possas novamente me preterir
em favor de São Lucas
-a quem darás teu riso-
ou ao Arcanjo Rafael
-a quem vais com teu amor cobrir.
Amém...
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
A coita do coito
Estamos sós num quarto escuro daquele
motel, no centro, com cortinas roxas desbotadas. Fomos parar ali da mesma forma
como ela apareceu: do nada. Quando me dei conta, estava estirado na cama, com ela
montada em cima de mim berrando feito uma cabra sem nem saber o motivo. O
cigarro estava quase queimando meu dedo, não me lembro de tê-lo acendido. Ela
deve ter acendido pra mim, Camel, a marca que ela gostava. Os meus eram
Carlton, e já haviam acabado.
Calor insuportável. O ventilador,
inútil, quase parando. Cheiro de esperma, talvez meu. Será que eu gozei? Os
peitos dela balançavam numa velocidade erótica, exótica, pra-cima-pra-baixo-pra-cima-pra-baixo.
Ela gemia e eu pensava “essa gorda vai me foder”. Casada, mas sem filhos –
menos culpa – balzaqueana e gostosa. Marido mais velho, obsessivo e broxa.
Eu trabalhava pra ele.
Eu trabalhava pra ele.
Ela gozou, se contorceu como uma louca,
cuspindo nos peitos, mandando eu lamber. Aqueles cem quilos me matavam de
tesão. Peitos grandes, macios por natureza. De repente ela me tira de dentro
dela, se afasta e acende um cigarro. Senta no criado mudo, pernas abertas, a
vagina ainda escorria o licor daquele corpo farto.
“Tira esse esmalte do pé”, digo. Gosto
de unhas naturais. Ela calçava 35, seus pés pareciam pequenos pães.
Assim que acabou de fumar, ela vestiu-se
e foi arrumar o cabelo no espelho trincado. Eu gostava dela de verdade. Essas
mulheres vêm e vão, fodem quando querem, com quem querem, e acham que não
deixam rastros em ninguém. Independentes, elas dizem que são. Ela vai embora
assim como chegou: do nada. Sua ninfomania deixa um vazio palpável em meu
espírito.
Acontece que espíritos não fodem. São
fodidos.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Analogia Assonante
Em todos os longos dias
da semana
percorre
em meu amorfo coração
uma
paixão ardilosa e leviana,
que
me afana a soberana calma
d’alma,
há muito conquistada
e
pleiteada, com afinco
pelo
zinco do meu cérebro
analógico
e incapaz
de
conter uma emoção
de
rapaz sentimental.
Um
agudo desejo, sacana
e
intransigente, mente.
Me
engana de maneira
brejeira
e eloquente;
alcançar
teu nirvana
é
a meta do meu ego,
sem
espaço para meio-termo
tampouco
satisfação mediana.
Quero
tua alma de cigana
e
tua astrologia libriana,
que
me distrai numa gincana
marota
e anafórica
da
tua amarga recusa;
dê-me
logo uma oportunidade
de
misturar-me à temperatura
insana
da árida savana
dos
nossos corpos sinestésicos,
mutuamente
analgésicos,
num
anafilático choque
de
viscoso prazer.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Estátua de Sal
Quantos mistérios faceiros escondem-se
nas curvas marotas da tua silhueta?
teu brônzeo olhar de menina idealiza;
teu robusto corpo de mulher realiza
Por trás do teu sorriso luzidio
há uma irresistível lura hedonista
na libido dos teus lábios joviais,
que acendem meus delírios mais carnais
Nos teus fartos contornos femininos
os meus se encaixam com exatidão,
nossas carnes misturar-se-iam na escuridão
Teu oculto sexo, delicioso e pagão,
inspira meus devaneios de homem solitário;
mas tu hesitas diante de mim: eis meu calvário.
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