Cala no teu peito o lamento
Sulfuroso que te transborda
Pela face crua e calhorda;
Incêndio seco em movimento.
Reserves o gosto agridoce
Do choro latente ao espelho;
Não grites nem peça conselho,
Todo palpite é precoce.
No fundo dos olhos cansados,
Angústia de sufocar
Mil vontades de se doar.
A dor que sentes te desperta
Do ócio de todo amar,
É ferida que quer fechar.
Jean-Jacques Henner, "Solitude", óleo sobre tela, 1886.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
Ressaca
Revoltas
ondas que quebram
nos
limites do areal
trazem
lágrimas de sal,
gotas
tristes que não secam
Em
seu ventre de amargor
guardam
pálidos abraços
de
tantos desfeitos laços
travestidos
de fervor
Agridoce
é a sina
do
náufrago que com mágoas
vem
perder-se nestas águas
Águas
fundas do meu peito
calam
sorrisos e amores
ao
transbordarem-se as dores.domingo, 31 de julho de 2016
Perfumaria
Saudades daquele aroma
sutil e tão delicado
do teu vestido amassado
atirado no carpete
orvalhado do meu quarto;
Na janela escancarada
a aurora até se adianta
para ver tua risada
ao saudar o novo dia...
Sem ti a noite é longa
mais longa que teus cabelos,
negros como a madrugada
que preenche tua ausência,
a iluminar com desvelo
os lençóis em que dormias,
dos quais emanam aromas
sutilmente eternizados
pela fricção doentia
de nossos corpos noturnos.
sutil e tão delicado
do teu vestido amassado
atirado no carpete
orvalhado do meu quarto;
Na janela escancarada
a aurora até se adianta
para ver tua risada
ao saudar o novo dia...
Sem ti a noite é longa
mais longa que teus cabelos,
negros como a madrugada
que preenche tua ausência,
a iluminar com desvelo
os lençóis em que dormias,
dos quais emanam aromas
sutilmente eternizados
pela fricção doentia
de nossos corpos noturnos.
quarta-feira, 13 de julho de 2016
To Have And Have Not
The old records taught me to desire
In their ancient, classy grooves,
Such a guide for my moves
I couldn’t avoid being on fire.
Among the cigarettes I shall find,
Hidden between girl’s legs,
The pleasure my youth begs
So milky it blows my mind.
No place is better than another;
The unknown attracts me
More than these bodies I see
Which I can’t feel for no longer.
Despite I have some patience
The ancient tunes have it lost;
Haven’t taught me what they must,
About love and its magnificence.
But through my anguish I realize:
Love might be a kind of silence.
sábado, 25 de junho de 2016
Bezerros De Ouro
Tudo
é uma mentira.
Cada
estrofe, cada verso,
cada
vernáculo disperso
até
a rima derradeira;
Parca
e febril imagem
de
fantasiosas musas
veneradas qual deusas
ilustra
minha linguagem;
Qual
não seria o assombro
ao
desvelarem-se as ilusões
em
melindrosas obsessões!
Poesia
soberba e fútil;
anseia
por uma relevância
que
não satisfaça sua ânsia.
domingo, 22 de maio de 2016
Ecos Do Inaudível
Para D.D
Guardarei tuas ausências
uma a uma com saudade,
entre as cruzes da vaidade
e os nós da resiliência
Nosso caso sem início
linearmente acabou;
de repente transformou
a nossa espera num vício
Sinto ainda um arrepio
ao imaginar os teus seios
sobre os quais não repousei...
Mas não temo nosso abismo;
duas almas não se afastam
se outrora uma só foram.
Pintura: Óleo sobre tela, de Julio Reyes.
Guardarei tuas ausências
uma a uma com saudade,
entre as cruzes da vaidade
e os nós da resiliência
Nosso caso sem início
linearmente acabou;
de repente transformou
a nossa espera num vício
Sinto ainda um arrepio
ao imaginar os teus seios
sobre os quais não repousei...
Mas não temo nosso abismo;
duas almas não se afastam
se outrora uma só foram.
Pintura: Óleo sobre tela, de Julio Reyes.
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Princesa do Mato Grosso
Para I. P.
Ela
tem os lábios mais lindos,
Daqueles
que se deseja beijar
Por
horas a fio; com minha mão
Em
seus cabelos macios
Irei
sentir toda a doçura
Que
seu beijo pode dar
Seu
coração tão magoado
Carrega
uma dor amarga
Que
os olhos tentam disfarçar;
Mas
a moça chora sozinha
E
a beleza de suas lágrimas
Inunda
sua alma jovem
Mocinha
linda...
Conquista-me
sem perceber
Com
esse seu jeito tão meigo
De
falar sobre todas as coisas
Seduzindo-me
aos poucos
Sendo
apenas ela mesma.
Pintura de Richard S. Johnson
terça-feira, 12 de abril de 2016
Poem for those who can't see me for a while
The streets
are asking for some kind of something
maybe they are
waiting for your return or
pretending you
are still here, laughing
through the
unbreakable glasses
you keep around
your eyes;
but those
familiar streets are lying,
not to me, but
to themselves
because I know
it is too early
to expect any of
your comebacks
since I've realized you haven't even left.domingo, 21 de fevereiro de 2016
Notívagos
No
âmago quente da noite
fervem
desejos inconfessáveis
de
indivíduos ordinários
envoltos
na luz incerta
e
amarelada dos bares;
cada
qual em seu simulacro
de
paixões enfumaçadas
pelos
cigarros consumidos
ad
infinitum.
Em
cada cinzeiro repousam
memórias
compartilhadas
por
cada coração errante
que
senta-se à mesa;
em
cada copo, o reflexo
turvo
de uma realidade
insípida,
digerida
somente
com o auxílio
do
álcool.
Mas
apesar do vazio
todos
sorriem de canto
à
pretensão de terem
outra
identidade amanhã
em
seus escritórios
pequenos
e padronizados;
e
em seus lares silenciosos
onde
enfim encontram
a
paz necessária.
sábado, 23 de janeiro de 2016
Menina Moça
Em
todos os dias do ano
ela
abre um sorriso radiante
que
ilumina até mesmo o sol,
e
o grande astro lhe sorri de volta
aquecendo
assim o corpo esguio
e
adocicado desta moça tão linda
como
as manhãs frescas
Esse
olhar faceiro que ela tem
me
encanta mesmo de longe
deixa
assim delirante
minha
mente insana,
e
sozinho em minha cama
fantasio
com os meus dedos
embrenhados
em seus cabelos
Seus
pés pequeninos
suavemente
percorrem
os
caminhos de seus desejos;
quisera
sentir deslizando
por
todo o meu corpo nu
esses
pés tão deliciosos,
o
tempo inteiro a me provocar
Esta
bela moça vive em plena
harmonia
com todas as criaturas.
O
mundo inteiro é seu
e
ela pertence ao mundo
quando
quer espairecer;
assim
como eu também serei dela
e
ela minha, pelo menos uma vez.
Modelo: Cláudia Lima
sábado, 2 de janeiro de 2016
E o fogo fez-se morno
As
últimas marcas da tua presença
reduziram-se
a um porta retrato
inodoro
e insípido e incômodo,
o
qual me sorri todas as vezes
que
abro a gaveta da escrivaninha.
É
sobre ele que jogo a cinza dos meus cigarros;
sua
forma arredondada e moldura côncava
auxiliam-me
nesse pequeno recalque,
porém
logo sinto remorso
e
limpo cuidadosamente como que para evitar
que
tu visses tamanho rancor cinzento
a
enfumaçar minha espera.
“Fumando
espero” é o oportuno nome
do
tango que eu ponho por teimosia na vitrola.
Tu
costumavas dançar ao som desse tango,
nua,
cantando no teu espanhol fluente
e
fumávamos até embriagar as paredes
com
a fumaça de nossos corpos em chamas.
Agora
o único a queimar é o meu cigarro,
à
espera de alguém que não mais conheço.
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