Ao chiar de um fonógrafo,
um tango soa fanhoso
numa noite enfumaçada
de um ano poroso
que já está por terminar.
Ao rodar do disco
gira um casal no salão;
amando-se ou odiando-se,
não há mais exatidão,
nesse ambiente alcóolico
a madrugada alta já vai
e da ilusão ninguém sai.
Olham-se. Entendem-se.
Dançam sem parar
a melodia de seus corações,
despertando sentimentos
até então desconhecidos
ou já esquecidos.
Ele, um desprezível rufião;
ela, só mais uma dançarina:
ambos à margem da sociedade
e à margem da paixão,
vivendo uma realidade
fadada a naufragar.
O disco chega ao fim
e os ruídos do gramofone
enfim, se calam.
Agora, cada um para um lado
e ambos não mais se falam.
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