segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Impasse

Eu que por anos tenho acreditado
Na doce convivência fraternal,
Persisto em olvidar em vão o passado
E o riso de quem me fez tanto mal

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Confusas Íris Esverdeadas

(Poema dedicado a uma amiga de longa data, cujos desencontros assemelham-se aos meus)

Uma esquina e uma saudade
Fundem-se em uma só lágrima
Que inunda o brilho do olhar
Da menina que anda só

Seu caminho está confuso
E seus pés sem qualquer rumo,
Mas seu coração sincero
Incendeia só por amor

Quando ama, ela se entrega
Com a mesma intensidade
De quando odeia com rancor
Que um dia já foi paixão

O verde do seu olhar
Quer conhecer todo o verde
Desse mundo tão imenso
Que a seus pés a surpreende

E oferece a liberdade
Ao alcance de suas mãos
É só abrir um sorriso;
Seu sorriso é o mundo.


























Modelo: Arycia

domingo, 11 de outubro de 2015

Deusa Incandescente

Nada mais me convence. Nem mesmo teu sorriso compadecido ou tua voz aliciante. Não há saída para quem está preso à entrada. Como poderei livrar-me das amarras que impus a mim mesmo? Tua sedução é tua própria loucura. Teu desespero atrai até o que evitas. Tu me evitas. Cansas num átimo de quem te reserva a ternura de um pupilo, de quem demonstra a admiração virúlea de um ex-amante. Confusão. De ideias, de sentimentos, ponho meus princípios à prova para entender-te. Ainda tenho princípios? Tenho precipícios. Entretanto, sem entender-te, atiro-me nu em teus precipícios, enquanto tu zombas dos meus. Tu me desacreditas. Tu me assombras. Meu assombro é o teu silêncio, o ranger da tua mente enfumaçada a injuriar-se, a praguejar baixinho por entre gozos, por entre guizos e miados. Rugidos. Teus rugidos não me convencem, por mais que o poder da tua juba esteja retornando ao viço que conheci. Trouxe tua essência bem perto, quase em simbiose, quando a simbiose era decantada apenas em ti - quando tu eras Sansão e Dalila, ambos a ferir os mesmos poros – e senti tua pulsação em mim. Não é teu coração que pulsa. São teus olhos, a bombear tuas lágrimas caóticas dentro das tuas artérias semióticas. Teus olhos, tristes buracos negros a me absorver, mesmo sem querer. Teus olhos sugam todo o sentimento do mundo, do teu mundo, cujos portais ninguém conhece. Nem mesmo aqueles que escalaram teus vinte ou cinquenta muros encontraram teus portais. Todos tentamos entrar. Te invadir. Tentamos ignorar teu pranto, reduzir tua divina crueldade a fim de caber em nossos próprios desejos, em nossos próprios ensejos mascarados de reciprocidade. Nós, teus amantes. Teus devotos. Teus. Não há quem me convença da tua humanidade. Tu não és humana. Tens vontade de sê-lo, mas não te adaptas. Teu hábitat é teu próprio corpo. Mantenha-o teu. É a única coisa que possuis, pois nem mesmo teu coração é mais relevante que teu corpo. O coração de uma deusa bate exteriormente. Teus olhos pulsam exteriormente. Fora, longe. Lá onde teu nirvana se estende docilmente nas planícies que teus pés já pisaram. Nem mesmo tu, Deusa Incandescente, conheces as pradarias silvestres que te criaram. Tu certamente descendes da natureza. Tua fúria emana do teu vulcão, acende-apaga-acende-apaga, tão volúvel quanto as lágrimas dos teus negros oceanos que encharcam toda a extensão das tuas estepes. E tu voas. Desapareces, quando abres teus braços, quando envolve a todos em teus abraços. Tu voas, porém o faz sozinha. E de algum lugar, ouço tua gargalhada pueril ao ler estas blasfêmias. Tua gargalhada me convence.



Pintura: "Weeping Nude" (1913), de Edvard Munch.