terça-feira, 5 de agosto de 2014

Círculo Vicioso

Hoje só quero estar sozinho
e abrir as portas à solidão, 
sem ninguém em meu caminho
que me recorde uma paixão

Ligo a vitrola e ponho um disco
que me ajude a aceitar
a rejeição que insisto
em perseguir sem cessar

Agora estou a chorar
em meu quarto, ocioso,
por não saber como encerrar
este círculo vicioso

É difícil decifrar
os mistérios de uma mulher,
ocultos no doce olhar
que é a resposta para o que ela quer

A resposta foge à minha percepção,
confusa com o sentimento
entorpecida pela atração
que me desperta o encantamento

Chego sempre atrasado
nos femininos corações;
da rejeição estou cansado
fazem-me mal as paixões

Agora só quero repousar
no seio de mais uma ferida,
tentando aprender a lidar
com uma presença feminina

Depois de tantas decepções
ainda há quem me questione
o motivo de minhas ilusões
com um passado tão insone

O presente me foi hostil
renegando minha presença
em sua dimensão tão vil

Já o passado me acolheu
caloroso em seus braços,
calando um adeus
amenizando meu cansaço

Nesse mundo já inexistente
eu descanso meu coração,
sempre em busca de um silente
mas expressivo abraço de paixão.

















Da Futilidade de Aracne

Aracne, exímia tecelã,
de vários olhos sua face
é dotada, porém num fútil afã,
se permite falsificar num desenlace
de paixão e cegueira vãs.

Quão borbulhante é o despontar
para uma nova vida de esplendor.
Nestas bolhas, prismas se fazem notar,
cada qual com seu tamanho e sua cor;
de todos os lados se pode enxergar
uma expectativa e um dissabor:
basta saber qual prisma optar.

Aracne, com seus mil olhos confusa fica,
multiplicando os ângulos de seus próprios
prismas irregulares, e abdica
de pensar com mais sabedoria,
escolhendo com o coração, que lhe sorria
mostrando o caminho mais egocêntrico.

Então Aracne acredita nas falácias
que lhe contam o seu clã;
com o tempo, estas mentiras 
ao correr por suas hemáceas
a tornam propriamente uma arguta canastrã.

A humanidade de Aracne fica presa em sua teia
dando lugar a um bestial comportamento,
o lugar cativo das amizades escasseia
pois no seu coração só há um pensamento:

O pensamento hedonista da luxúria,
que às gargalhadas enevoa sua mente;
causa aos outros clãs fúria
o que hoje se tornou a Aracne decente

Uma aranha venenosa, eis o que restou
daquela que outrora fora uma bela mulher,
cujo perfume inebriava as gentes,
hoje enoja e ninguém quer.

A borbulhante juventude tem prazo
rigoroso, Aracne não se recorda
nem aceita este real fato,
e hoje bem me comprazo
em conjeturar seu fim amargo,
pois na lama em que hoje chafurda
ficará para sempre ao largo.









sábado, 2 de agosto de 2014

Panos Quentes

A distância que nos separa,
saudável ao meu amor próprio,
é louvável, pois repara
tudo o que fiz de impróprio
e tudo o que você poderia ter feito

Evito fotos suas,
representações eternizadas do seu rosto
com aquele sorriso cínico
de menina aspirante a mulher

Procuro esquecer seu nome
não falando de você a outros,
assim não recordo sua voz
e o riso pueril que saía
da sua boca pequena e fugaz

Tenho medo de cair na sua gravidade,
voltando assim a orbitar obcecado
em torno dos seus cabelos perfumados,
ansiando por tê-los entre meus dedos
enquanto meus lábios acarinham os seus

Nós dois já seguimos em frente
com pés no chão e olhos no céu,
às vezes olho para trás antes de seguir,
procurando entre os desconhecidos hostis
um olhar conhecido que pudesse ser o seu.