terça-feira, 11 de novembro de 2014

Tu

Do meu verso és a inspiração
que oprime minha mente,
do meu amor, a maldição
que de mim é inerente.

Dos meus olhos, és as águas
que banham minha face,
do meu coração, as mágoas
e as amarguras da classe

Da minha vida, és a prosa
que escorre da minha mão,
da minha morte, a rosa
e a podridão de uma paixão.

Lamúrias

Sei que alegre estás agora,
tua face vibra de amor.
Porém não esqueças da paixão de outrora
que te causou muita dor

Ofereço-te meu coração
em uma bandeja de cristal,
e te canto uma canção
sobre um sentimento fatal

Para ti sou um invisível ser
que não desperta nenhuma emoção,
por isso convido-te a este poema ler:
tentativa inútil de tocar seu coração.

Porém não espero nada ganhar
pois mantenho meus pés bem no chão,
muito alto sonhar
foi o que consumiu meu coração

Mais uma coisa para lhe falar:
Os que foram fofos ontem
hoje não lhe falarão
e em uma negra nuvem
transformarão seu coração.












Um Brasileiro

     São três horas da manhã. Saio para a rua em busca de alegria, mas não a encontro. Vou à praça, não há ninguém. Durante o curto tempo em que lá permaneço, a única coisa que sinto é tédio. Isto porque as únicas coisas que há lá são passarinhos encorujados em seus ninhos e a luz bruxuleante das lâmpadas públicas.Saio. Vou à rua Augusta para ver as vitrines daquelas lojas caríssimas, em que cada peça de roupa equivale a incontáveis salários mínimos que recebo. Só que nesta noite as vitrines estão vazias, pois as lojas trocaram-nas no dia que acabou. Enfim, passo defronte a uma casa grotesca, desgastada pelos anos. Uma casa que é o retrato do abandono, do descaso. Mas um espírito de renovação a cobre e me cobre: metade da fachada pintada e um encontro marcado. Afinal, amanhã é Páscoa. Dia de renovação.
     Entro em casa com sono.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Deusa Portuguesa

Ó divina lusitana
porque é que te acanhas
quando estou a te oscular?
Se o meu maior desejo
é ter sempre o ensejo
de contigo ficar!

Ó sereia do Tejo
não fujas dos meus beijos,
os teus lábios são meu lar!
Pelo tanto que te quero
cada instante que te espero
é um martírio invulgar!

Musa dos meus Açores,
por ti morro de amores
sem ti não posso viver!
Dê-me ao menos uma chance
para eu mostrar-te a nuance
do meu amargo querer!

Rapariga tão perfeita,
minh'alma não aceita
teu desprezo cruel!
Se me beijas, não aguento
teus carinhos seriam alento
me invadindo qual um tropel!

Escultura de Portugal,
teu corpo é meu maior mal,
me seduz a todo instante!
Se te vejo nua e bela
pela fresta de tua janela
meu desejo será total!

x

Desejos

Você é,
de todas as minhas fantasias,
a mais intensa.
De todas as minhas alegrias,
a mais sutil.
De todos os meus medos,
o que eu quero enfrentar.
De todos os ensejos,
o que eu não quero perder.
De todos os pecados,
o mais divino.
De todos os meus cigarros,
o que eu trago mais devagar.
De todos os vícios,
o mais vital.
De todos os meus arrepios,
o mais instigante.
De todas as minhas crenças,
a mais mística.

Entre tantas amigas,
a mais sedutora,
detentora de um aroma
tão suave quanto teu sorriso
tão lascivo quanto teus seios
tão intenso quanto meu desejo
de ser teu homem,
vez ou outra.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Lágrimas Celestes

Chove sem parar
na rua lá fora,
e cada gota espelhada
reflete minha dor de outrora.

Chuva que bate todo o tempo
no alumínio de minha janela cerrada,
tenha piedade de um sujeito
cuja alma já não aguenta
ser de tal forma espezinhada!

São todas lágrimas celestes
de um céu não mais tão atraente:
Inferno na terra é o que me trazes,
torturando-me com um amor ausente...

As nuvens negras de fracasso
me engolfam suavemente,
com o aroma agridoce
da amargura onisciente

Acendo as luzes e vejo,
no espelho, a palidez de minha face:
caveira sem vida, exangue,
vítima de si mesmo, caçoado
por verdadeiras lágrimas de sangue.

Que será de ti?

É o teu sórdido cinismo que me tira do sério
quando sorris com infâmia para todos os rapazes,
menos para mim, este ser atroz e funéreo
cujos dons no amor não possui ou os têm incapazes

Será que não sabes a podridão da tua imagem artificial?
Ou não deseja fitar tua sombra num espelho esquecido?
A indecisão do teu caminho no amor é teu grande mal,
não sabes qual linha e agulha usarás para costurar teu coração partido

Nem tu sabes ao certo quem és,
o fantasma do teu passado te empurra para a penitência
que te afasta aos poucos da plena consciência

O que será de ti, acho que nem Deus tem conhecimento,
teu futuro é soturno, no amor tu colherás ainda
todas as flores mortas que plantaste na tua indecência infinda.



sábado, 1 de novembro de 2014

Recuerdo

Me voy a rever mi pasado
y besar todas las mujeres que amé,
volveré a empezar lo que he terminado
así podré reavivar la llama de mi vida

Caminaré por las mismas calles
escuchando los mismos sonidos,
de cuándo era solo un niño
de cuándo era feliz

Hoy, no puedo más cantar,
ni tampoco andar;
mi vida he llegado al final

Pero no estoy entristecido,
pues todo lo mal yo he olvidado;
ahora, soy solo un recuerdo.


Let it go

Our love is wasted, dear
I can feel the paine through us.
We need to end this here
and stop this scary discuss.

You can breath the fear
into my dark eyes;
so why are you still near
telling me all these lies?

Go out this room,
let me beat it alone
I'm sure that soon
I'll find someone.

Because, to me, you're already gone.

Glórias de um Pierrot

Em suas andanças errantes,
o pierrot clama por um amor
muitas vezes tão distante
só trazendo forte a dor

Em sua viola cantante
chora as mágoas da ilusão
e, não obstante,
as conquistas do coração

Nos trajes traz os caminhos
percorridos pelo corpo servil,
em cada botão, em cada fio de linho,
a lembrança de uma mulher vil

Nas praças em que dorme
atrai olhares complacentes,
que não sabem o que o consome
nem seus sonhos tão dolentes

No olhar tão comovente
transborda a recusa de um afeto,
sofrendo silente
por alguém longe e perto

Traz nas mãos calejadas
a via tortuosa das paixões
das rosas colhidas e roubadas
entregues a duros corações

Apesar de toda a desventura
e quimeras carnavalescas,
o pierrot tem uma lura
de esperanças nababescas

De que um dia venha a ter
recíproco um carinho
antes da lura vir a ser
a vítrea cova em que sozinho
venha enfim a morrer.