sábado, 1 de novembro de 2014

Glórias de um Pierrot

Em suas andanças errantes,
o pierrot clama por um amor
muitas vezes tão distante
só trazendo forte a dor

Em sua viola cantante
chora as mágoas da ilusão
e, não obstante,
as conquistas do coração

Nos trajes traz os caminhos
percorridos pelo corpo servil,
em cada botão, em cada fio de linho,
a lembrança de uma mulher vil

Nas praças em que dorme
atrai olhares complacentes,
que não sabem o que o consome
nem seus sonhos tão dolentes

No olhar tão comovente
transborda a recusa de um afeto,
sofrendo silente
por alguém longe e perto

Traz nas mãos calejadas
a via tortuosa das paixões
das rosas colhidas e roubadas
entregues a duros corações

Apesar de toda a desventura
e quimeras carnavalescas,
o pierrot tem uma lura
de esperanças nababescas

De que um dia venha a ter
recíproco um carinho
antes da lura vir a ser
a vítrea cova em que sozinho
venha enfim a morrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário