sexta-feira, 24 de abril de 2015

Regresso

Regressar, regressar
de volta ao começo;
quisera eu poder voltar
ao tempo que não esqueço

Não esqueço porque não posso
esquecer o que não vi,
mas desde já endosso
que de algum jeito, eu vivi

Se não vivi, vivo agora
uma realidade de pó,
atrasado, fora de hora
e quase sempre só

Insosso é o tempo atual
onde os relógios decolam
onde pessoas se isolam
e tudo é sempre normal

Meu relógio difere de vários
fiz com que retrocedessem
ponteiros e calendários
para que não voassem

Volto noites, volto dias
rumo a um passado distante,
aqui vejo vidas vãs, vazias,
que me impulsionam a ir adiante

Mas cada coisa que vejo
parece impalpável a mim,
tudo nesse ambiente é um ensejo
para eu por nisto um fim

A angústia reverbera pelo meu ser
como a música de uma velha vitrola;
poderei eu em vida morrer?
ou continuo perseguindo esmolas?

Esmolas são tudo o que sobrou
dessa época tão declinada,
tudo o que o vento ainda não levou
junto com uma era já sepultada

Minha sina é viver no baú
que eu mesmo criei,
um mundo de todo azul
que nunca sentirei

Olho para trás e vejo o universo
que antes fora o passado;
olho para a frente e vejo o regresso
onde meu ser está aprisionado

Toda a minha trajetória
pode então resumir-se assim,
numa frase sem rima nem glória:
"Meu tempo é ontem."


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