domingo, 22 de junho de 2014

A Passagem

Neste túmulo esquecido
meu cadáver repousa
profanado e enegrecido
sem direito a uma lousa

Jogado aos vermes fui deixado
por aqueles que me amaram;
pelos amigos desprezado
e pelo mundo injustiçado

Pouco a pouco me desmancho
aos pedaços, de ilusões,
exalando o perfume lúgubre
do amor e das paixões

Meu coração amargurado
segue agora parado,
inútil e desgraçado,
por mulheres torturado

Enquanto os ossos não aparecem
e minhas carnes não apodrecem
tenho a amarga companhia
dos vermes que me laceram

Mas uma visita
um drinque me oferece:
é a Morte afinal
a única que não me esquece,
e me pergunta, faceira,
com sua voz derradeira:

"O que vistes da vida,
minha nobre ovelha?
te entregarei a Lúcifer
para arder na grelha!"

Minha resposta a ti, ó Morte,
é que nada vi:
nunca vi sombra de sorte

Mas que eu seja enfim condenado
e pelo diabo queimado,
pois minh'alma está cansada
e da vida, não levo nada.


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