domingo, 13 de julho de 2014

Morte Acidental

  As árvores de um cemitério sempre parecerão mais belas aos olhos de quem tem saudade. Cada epitáfio, por mais simples que seja, é um marco do inevitável, como se estivessem ali para provar-nos
o quanto somos inferiores a qualquer coisa decididamente superior e maior.
  O Destino.
  Ao ler as frias palavras de despedida impressas no frio concreto de uma lápide qualquer, fico imaginando a razão daquela pessoa aleatória ter partido. Mas o mais plausível é que simplesmente chegou a hora de partir, de deixar de existir. Fantasmas? Todos temos nossos próprios fantasmas enquanto vivos, atordoando nossa massa cinzenta por toda a vida. Um amor perdido, uma carreira jogada ao vento, um tapete puxado, uma morte prematura.
  As mortes prematuras têm um sabor de nostalgia decerto mais denso do que um fim tardio (dito "alívio", "descanso") pela mesma razão com que uma criança às vezes inocente lamenta um sorvete caído ao chão. Aquela guloseima tão deliciosa aos olhos deveria estar mais sublime ainda ao paladar. Uma criança, ou um jovem, quando morre, dizem: "A vida toda pela frente!" como se na vida houvesse um padrão correto de idade para morrer. Por exemplo, até uns setenta anos a pessoa seria considerada "nova"; passados os setenta, diria-se: "Meu filho, você já tem setenta e um, pode se encaminhar ao cemitério mais próximo para providenciarmos a sua morte da melhor forma possível." É confuso afirmar que  um sujeito tinha a vida toda pela frente, quando sua vida foi justamente aquele quinhãozinho de anos; ou, como acontece aos bebês que morrem logo após o parto, cuja finalidade aqui em nosso convívio tenha sido apenas contemplar o rosto da mãe. Todos temos uma finalidade, nada é feito por acaso. Alguns dirão "missão", não gosto deste termo, é por demais militar, não somos soldados ou mártires.
  Seria exagero dizer que a morte sempre vem em boa hora, como se fosse a finalidade da nossa travessia por estas bandas de cá, como afirmavam com fé os antigos egípcios. Mas na grande maioria dos casos, é um cumprimento de protocolo. Pelo menos por parte do morto.












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